Uma entrevista de emprego em 2001
Atualmente sou Professor de Ensino Fundamental na rede de Santo André, e não vou escrever em qual unidade para evitar desgastes desnecessários, mas o fato é que sou, atualmente, um educador.
Nunca pensei que seria um Professor, pelo menos na época que me formei no ensino médio, naquele tempo não existia perspectiva de nada, entrar na Universidade sendo pobre era impossível, restava-me tentar fazer algum curso no SENAI para tentar adentrar na indústria e em fim descer do caminhão para riquezas maiores.
Sendo filho de nordestinos, negro e ainda “diademense” o fracasso é certo, e parece que tudo dava errado e no final o sentimento de culpa era sempre meu. Tentava me sustentar no serviço pesado, e era muito complicado para mim, sentia muitas dores musculares pelo excesso de cargo, eu me sentia até um jumento de carga, e olha que na época ter o ensino médio completo era uma grande coisa.
Lembro-me que na tentativa de ter alguma ocupação que não me matasse de tanto carregar peso eu tentei passar em uma entrevista, aliás, foram várias. Porém me recordo de uma para auxiliar de escritório, essa foi pela agência de empregos, algo que nem existe mais na atualidade, foram trocadas pelas “infojobs” da vida que não ganha com parcela do pagamento do funcionário, mas ganham com assinatura de quem procura emprego.
Nessa entrevista para auxiliar de escritório na primeira fase, tinha uma prova escrita, e naquela época já comecei a perceber que levava jeito pra coisa, tipo provas, talvez vestibulares, talvez concurso, estamos falando 2001, o pequeno Rogério tinha só 18 anos, eu não tinha ainda noção do meu potencial e o que aconteceria 21 anos depois, e posse dizer que foi um filme bom. Retomando ao assunto, passei pela prova escrita, e estava então apto para a próxima fase. As entrevistas de emprego eram humilhantes e em alguns casos duraram um dia inteiro, sem direito a almoço ou lanche por parte das empresas, algumas não ofereciam nem água, os candidatos cochichavam que fazia parte do teste, que era a prova da resistência, e etc… Mas eu sempre desconfiei que era mais maldade da empresa e a dó de gastar com processo de seleção.
Na segunda fase chega a grande humilhação, os candidatos à vaga tinham que na frente de todo mundo falar o nome, falar a idade, responder o porquê de estar concorrendo à vaga, de que maneira podem contribuir para empresa.
Respondi conforme minhas convicções na época, com muita dificuldade, pois era necessário mentir, imagina um cidadão completamente duro, andando de ônibus, se vestindo mal, pois não tem dinheiro para comprar roupas novas, querendo comprar as coisas sem ter condições, é óbvio que a atração principal é ter salário, e no meu caso ainda tinha a questão de eu não estar aguentando serviço com peso, mas eu não ia falar isso. O resultado foi o seguinte, me deram a resposta: “você está dispensado da entrevista, agora é só aguardar o contato da empresa”, o detalhe é que estou até hoje aguardando esse contato.
Peguei o ônibus terminal de piraporinha, na verdade é um trólebus, desci no terminal e peguei um intermunicipal para minha casa, e amarguei mais uma o desemprego.